quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Memórias


É .... Tinhas (e tens ainda) o corpo alto e rijo, lembrando uma árvore.

Tinhas (e ainda as têm) costas largas e peito farto (que me amparava, acalmava), lembrando uma montanha, ao fundo uma floresta. Tinhas as mãos grandes (sim, sinto falta delas, e como sinto), enormes, mas tocavas leve, incendiando, trazendo paz, às vezes as duas coisas.

Tinhas o rosto claro, como os olhos, por vezes escuros, e balançavas entre ti e mim, como eu, perdida e encontrada neste nosso amor ( eterno amor).

Por vezes ríamos, e a tua boca era então o meu altar, como o teu amor, ou uma frase tua. E dormir, sabes, nunca foi tão bom – como acordar de manhã e começar logo a sorrir.

Tinhámos tudo e não tinhámos nada. 

Partimos...

E como se ecoasse perfeitamente sólido tudo, na mais pura e doce harmonia, tu, retornastes. Uma manhã cinza ... Tinhas os olhos vítreos e o suor escorria-te pela testa. As pernas estavam secas, do medo. Olhavas-me, como se sofresses (sofrimento que ainda me consome).

E de repente, como se o improvável fosse impossível, tu me olhavas e dizia: 

Vá viver sua juventude, eu a liberto, em nome do amor que tenho por ti! Eu já vive alguns bons anos. Vá, te esperarei aqui. 

Passaram-se três anos desde que te decidiras a fazer a tua viagem.

Para mim, um século, uma eternidade; e isso tu parecias não compreender.

As noites em claro, as lágrimas sufocadas pela almofada, olhar o teto escuro durante horas à procura de uma explicação para o fim do nosso amor.

Foi quando o destino parecia brincar com o tempo, e o tempo me consumia. 

Regressaste num dia ensolarado, com um monte de fotografias, lembranças e muitas histórias para contar, um sorriso nos lábios e uma notícia, ou melhor alguém (que não eu).

Esperavas o meu abraço, mas ele não veio (travei, permaneci inerte, entorpecida, seja lá o que for) .

Esperavas uma festa, música e flores pela casa, talvez até a minha indisponibilidade.

Suponho que nunca imaginaste que eu não tinha vida para além de ti ou que eu iria te amar para sempre.

Mas nunca é demasiado tempo, mesmo para quem ama, sobretudo para quem fica.

Tempo, tempo, tempo, inquestionável e ao mesmo tempo indecifrável.

E ainda assim, aquele amor (nosso amor) permanece, ferve, pulsa apesar de nossas escolhas.

Foi nesse dia que comecei a acreditar que és tu (que sempre foi e pelo sempre será).

E hoje digo ( e o compreendo) Vá viver, eu o liberto, pois, finalmente, aprendi a te amar.

Tempo, tempo, tempo ... nunca será demasiado para quem ama e sabe esperar!!!!